Direção: João Canijo
Argumento: João Canijo
Elenco: Rita Blanco, Cleia Almeida, Anabela Moreira
Argumento: João Canijo
Elenco: Rita Blanco, Cleia Almeida, Anabela Moreira
Ano: 2011
Desde Noite Escura (2004) que João Canijo não necessita de se afirmar artisticamente, o apogeu da sua carreira atingido. No entanto, continuamente nos(/me) surpreende com obras carregadas de talento, sensibilidade e brilhantismo.
Em Sangue do Meu Sangue é impossível não reconhecer Canijo: o seu leque de actores predilectos reunidos novamente, a força de Rita Blanco em papéis que mais ninguém saberia tão bem honrar e a naturalidade de cena num ambiente bem
português que só ele sabe criar.
Não há necessidade alguma de analisar a execução técnica, mas faço-o. Faço-o porque o merece - as diferentes acções que se desenrolam simultaneamente unidas num único plano e a importância dispensada ao ambiente sonoro fortalecem esta obra por lhe atribuírem um carácter orgânico: é um filme sem cortes "climáticos", um filme que seguimos sem alguma sensação de estranheza face à ficção que decorre.
Já se disse que este é um "filme de mulheres" e tenho de discordar pois dizer isso é uma ofensa das mais redutores a esta obra. Sangue do Meu Sangue é um filme sobre a família, os valores familiares e a distorção e valorização dos mesmos, as intrigas, os segredos e a força protectora que carrega o seio familiar. Sim, é claro que o papel feminino é destacado e tratado com muito mais relevância - o pilar familiar -, mas porque este filme tem como como força impulsionadora o amor e tudo a que nos capacita, como nos transforma. O amor de uma mãe, o amor de uma tia, eventualmente o amor-mártir de um pai, o amor de um sobrinho deliquente ...
Tenho de elogiar mais uma vez a capacidade de execução técnica de Canijo que retrata Portugal em cada pormenor, em cada garrafa de àgua sem rótulo com azeite, em cada fruteira, em cada cortina. Um olhar objectivo à vida familiar de um bairro português, envolvendo todas as problemáticas actuais (sociais) e intemporais (familiares).
Se em Noite Escura, Canijo retratou a deteoriação dos valores familiares, em Sangue do Meu Sangue enaltece-os, fortalece-os e mesmo que a certas alturas meio que distorcidos, sempre presentes.
Os vários prémios e nomeações em tão pouco tempo atribuídos, falam por si só.