ARGUMENTO NÚMERO UM CONTRA A CRÍTICA BIOGRAFISTA
De: Ang Lee
Argumento: Annie Proulx, Diana Ossana e Larry McMurty
Elenco: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Michelle Williams e Anne Hathaway
Umas noites atrás apeteceu-me ver um filme – sentimento recorrente
no meu quotidiano – e não sei bem porquê decidi dar uma oportunidade a um filme
do qual não guardava boas memórias.
A primeira vez que decidi ver o filme de Ang Lee foi aquando
da sua estreia, ou seja seis anos atrás quase. Lembro-me perfeitamente que fui
ver o filme pelo mediatismo em seu torno e que saí da sala de cinema a pensar
que era só disso que o filme sobrevivia. Cheguei até a comprar a colecção de
contos de Annie Proulx para ver se o problema era do filme ou da história em
si. Nunca cheguei a nenhuma conclusão sobre o assunto, mas esta semana ficou a
possibilidade que haveria algum problema a nível da minha própria maturidade
quando vi o filme.
Brokeback Mountain não é um filme complexo a nível do
seu enredo. É a história de Ennis Del Mar (Heath Ledger) e Jack Twist (Jake
Gyllenhaal) que durante um verão a trabalhar nas montanhas de Brokeback se
apaixonam. Mas a sua linearidade narrativa não deve ser confundida com uma
simplicidade de emoções.
Seis anos atrás eu tinha 17 anos e irritou-me os planos
arrastados de Ang Lee e todo o melodrama da história de Ennis e Jack. Só o arco
narrativo da personagem de Michelle Williams me tinha comovido. Seis anos
depois os planos arrastados parecem enclausurar um momento que ambos agentes
não querem que passe. A interpretação rígida de Ledger contrasta com a
personalidade mais submissa da personagem de Gyllenhaal, mas ambas procuram a
mesma coisa. A interpretação de Williams parece-me ainda melhor e fica a ideia
que lhe foi roubada uma estatueta dourada (Michelle perdeu para Rachel Weisz em
The Constant Gardener).
Não quero argumentar com este texto que alguns filmes padecem
de alguma maturidade emocional por parte do espectador para serem
compreendidos, porque não acho que isso seja inteiramente relevante. Mas que essa
mesma maturidade muda o nosso entendimento sobre o filme. Muda a nossa relação
com a obra. Seis anos atrás eu seria incapaz de perceber a razão de Ennis não
deixar Alma por Jack. Seis anos atrás eu seria incapaz de compreender a
personagem de Heath Ledger de todo.
Pergunto-me se daqui a seis anos o filme ainda será
relembrado pelo seu mediatismo, por pertencer à obra de Heath Ledger ou se será
redescoberto por mais espectadores como sendo uma fatídica narrativa amorosa
filmada de tal modo que nos parecemos esquecer da parte da tragédia por breves
momentos. Acho que vou ver o filme de novo.