domingo, 29 de janeiro de 2012

BROKEBACK MOUNTAIN (2005) dir. Ang Lee

ARGUMENTO NÚMERO UM CONTRA A CRÍTICA BIOGRAFISTA



Brokeback Mountain
De: Ang Lee
Argumento: Annie Proulx, Diana Ossana e Larry McMurty
Elenco: Heath Ledger, Jake Gyllenhaal, Michelle Williams e Anne Hathaway



Umas noites atrás apeteceu-me ver um filme – sentimento recorrente no meu quotidiano – e não sei bem porquê decidi dar uma oportunidade a um filme do qual não guardava boas memórias.
A primeira vez que decidi ver o filme de Ang Lee foi aquando da sua estreia, ou seja seis anos atrás quase. Lembro-me perfeitamente que fui ver o filme pelo mediatismo em seu torno e que saí da sala de cinema a pensar que era só disso que o filme sobrevivia. Cheguei até a comprar a colecção de contos de Annie Proulx para ver se o problema era do filme ou da história em si. Nunca cheguei a nenhuma conclusão sobre o assunto, mas esta semana ficou a possibilidade que haveria algum problema a nível da minha própria maturidade quando vi o filme.
Brokeback Mountain não é um filme complexo a nível do seu enredo. É a história de Ennis Del Mar (Heath Ledger) e Jack Twist (Jake Gyllenhaal) que durante um verão a trabalhar nas montanhas de Brokeback se apaixonam. Mas a sua linearidade narrativa não deve ser confundida com uma simplicidade de emoções.
Seis anos atrás eu tinha 17 anos e irritou-me os planos arrastados de Ang Lee e todo o melodrama da história de Ennis e Jack. Só o arco narrativo da personagem de Michelle Williams me tinha comovido. Seis anos depois os planos arrastados parecem enclausurar um momento que ambos agentes não querem que passe. A interpretação rígida de Ledger contrasta com a personalidade mais submissa da personagem de Gyllenhaal, mas ambas procuram a mesma coisa. A interpretação de Williams parece-me ainda melhor e fica a ideia que lhe foi roubada uma estatueta dourada (Michelle perdeu para Rachel Weisz em The Constant Gardener).
Não quero argumentar com este texto que alguns filmes padecem de alguma maturidade emocional por parte do espectador para serem compreendidos, porque não acho que isso seja inteiramente relevante. Mas que essa mesma maturidade muda o nosso entendimento sobre o filme. Muda a nossa relação com a obra. Seis anos atrás eu seria incapaz de perceber a razão de Ennis não deixar Alma por Jack. Seis anos atrás eu seria incapaz de compreender a personagem de Heath Ledger de todo.
Pergunto-me se daqui a seis anos o filme ainda será relembrado pelo seu mediatismo, por pertencer à obra de Heath Ledger ou se será redescoberto por mais espectadores como sendo uma fatídica narrativa amorosa filmada de tal modo que nos parecemos esquecer da parte da tragédia por breves momentos. Acho que vou ver o filme de novo.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Weekend, por Ricardo Branco

Direção: Andrew Haigh
Argumento: Andrew Haigh
Elenco: Tom Cullen e Chris New

            Weekend é o filme que o cinema sempre precisou e estava à espera – eu explico porquê: Weekend é um filme com temática gay que não é sobre sida, nem sobre sexo. Weekend é uma história de amor que nos faz pensar em Before Sunrise e em mais algumas das histórias de amor que foram imortalizadas pelo cinema.
            Podíamos pensar que a história do One Night Stand que acaba por ser mais que isso está mais que batida – mas a verdade é que Andrew Haigh vem tratar disso tudo duma outra forma que nos acaba por surpreender e absorver de tal forma que os noventa minutos de filme passam a correr.
            A fotografia é completamente invulgar (com planos até de reflexos nos azulejos da parede) e a banda sonora não sendo muito relevante nesta obra é também boa. Os atores – sendo desconhecidos de todo – são uma verdadeira surpresa: não há um grande papel neste filme, mas o desempenho é feito com tanta naturalidade e simplicidade que os tornam em personagens muito reais. Não há fantasias por aqui.


            O que realmente importa neste filme é o argumento. É brilhante e sublime e deixa-nos a refletir nas conversas banais que cada um vai tendo por aí: somos afundados em diversas temáticas num tom superficial, mas de quem sabe filosofar e isso faz-nos desejar que estas se transponham para a nossa vida e que encontremos alguém com quem possamos conversar daquela forma.
            Não há uma história de amor avassaladora neste filme: há sim uma história de amor bonita e do dia-a-dia – que tanto vangloria o espírito de quem se envolve sexualmente num quarto escuro de um bar gay, como o espírito de alguém que se apaixona à primeira vista. É claro que o sexo também existe (afinal isso faz parte da vida), mas é filmado da forma mais correta que podia ser.
            Este é um dos filmes que mais esperei para ver em toda a minha vida e em nada fui desiludido: muito pelo contrário. No final deste filme dei por mim a refletir na vida e o mesmo acontecerá com alguém que se reveja tão bem em uma destas personagens.
            Um dos primeiros filmes (se não o primeiro) que vi em 2012 e garanto que não podia ter começado este novo ano cinematográfico de melhor forma – e ainda que (por uma razão que me ultrapassa completamente) este filme não vá passar pelos cinemas portugueses, em Março lá estarei para o comprar em DVD e repetir a proeza de ver um filme que trata a minha vida por tu.