Wuthering Heights
De: Andrea Arnold
Argumento: Emily Brontë, Andrea Arnold, Olivia Hetreed
Elenco: Kaya Scodelario, James Howson, Oliver Milburn, Nichola Burley
Filmes de época costumam ser uma
armadilha de regras e costumes perigosa. Para os criadores. Para os
espectadores. Da roupa ao modo como as personagens se comportam e falam, o
espectador tem todo um horizonte de expectativas que espera ser alcançado
quando vê um filme de época. Este argumento, provavelmente, intensifica-se mais
quando falamos de filmes que retratam a Época Vitoriana. Era das obras da Jane
Austen e das irmãs Brontë. Todo o cânone cinematográfico baseado no universo
literário destas autoras – demasiado extenso para enumerar – moldou todas as
nossas referências e concepções de uma fatia de tempo da história inglesa. Até
ao ponto que o formato se solidificou e, depois, saturou.
Por isso, a priori uma nova proposta fílmica do texto de Emily Brontë não
parece trazer nada de excitante, ou inovador. A versão de Andrea Arnold parece
argumentar o contrário. A interpretação de Arnold da história de Brontë é tudo
menos uma obra formatada. Assente numa cinematografia tão majestosa como as
próprias páginas da obra de Brontë, Andrea Arnold transfere o enredo de Wuthering Heights para um ambiente rural
sufocante, que enclausura ainda mais as tensões da narrativa de Heathcliff (James
Howson) e Catherine (Kaya Scodelario). Mas o filme de Andrea Arnold não é uma
interpretação radical da obra de Emily Brontë.
Provavelmente, a maior liberdade
que Arnold toma com o texto é transformar a personagem principal de Heathcliff
num escravo negro, mas isto nunca surge como um elemento inverosímil durante o
filme. O trabalho do jovem Howson não deixa que o espectador se distraia dos
seus sentimentos. Existe sim uma enorme atenção ao detalhe descritivo da obra
de Brontë traduzido em magnificas sequências – muitas delas desprovidas de
qualquer diálogo.
Penso que este último aspecto do
filme de Andrea Arnold é o que resgata o filme de cair na indiferença do
espectador. Em vez, e de só, dar atenção ao trabalho dos actores ao transferir
uma obra literária para o cinema, Arnold parece valorizar mais o papel do cinematógrafo
neste processo de adaptação literária. E essa decisão parece ser um sucesso,
pois, enquanto espectador, temos contacto com diferentes camadas
interpretativas que só teríamos acesso na leitura do texto original. Existe,
assim, uma espécie de poetização do plano cinematográfico, que vai de em certas
sequências vermos a acção pelos olhos de Heathcliff ao vermos este desaparecer
no nevoeiro.
A intenção de Andrea Arnold
actualizar um clássico literário e cinematográfico espelha-se na linguagem das
personagens, nos seus gestos e na sua perspectiva do texto e isso traduz-se
numa obra sufocante que consegue fazer algo que achava impossível – injectar novo
sangue num formato cinematográfico cansado.
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