sexta-feira, 16 de março de 2012

Howl, por Ricardo Branco


         
Direção/Argumento: Rob Epstein e Jeffrey Friedman
Elenco: James Franco, Todd Rotondi e Jon Prescott

               Howl não é um filme para ser apreciado por toda a gente. Ainda que a linguagem de certa forma o permita: nunca irá ser sentido da mesma forma por alguém que seja um outsider total face a aquela história. Howl é um filme sobre a literariedade na homossexualidade.
            Mais do que um filme sobre a vida de Allen Ginsberg e de certa forma da vida dos seus colegas da beat generation – Howl (como o nome indica) debruça-se sobre a análise e reflexão do poema: o que poderá ser obsceno ou não, o que tem valor literário ou não e tudo vai acontecendo com o julgamento de guarnição.
            As animações que acompanham o poema são cruas e de tons de alucinação – mas de uma beleza inquestionável e uma importância séria na interpretação do poema: as formas são abstratas muitas vezes, mas também o são as palavras deste poema à primeira leitura “como uma fotografia lentamente revelada”; a certa altura já não sabemos se as imagens nos ajudam com o texto ou o texto nos ajuda com a imagem – o importante é que somos levados e consumidos pela ilustração.
            A inserção de imagens reais leva o filme para um outro nível – não tão épico, mas assim no tom de Milk (por Gus van Sant) com dezenas de hipsters e white negros a dançarem ao som de Hot Jazz e a darem-se aos prazeres do mundo. Há uma confirmação daquilo que especulamos, há uma confirmação daquilo que imaginamos quando ouvimos as entrevistas que Allen dá (aqui interpretadas por Franco).


Não é novidade que James Franco desempenharia bem o papel de Allen Ginsberg, mas é novidade que ele o viveria desta forma tão pulsante – atento nos pormenores do sotaque e da acentuação da leitura e nos gestos levando-nos a crer um Ginsberg (que de alguns ângulos chegam a ser bem parecidos).
            Nota-se perfeitamente que este filme é dirigido e criado por alguém que está habituado a documentar apenas e isso é bastante positivo aqui: são uns quantos pontos oferecidos à veracidade e realidade do filme e leva-nos a acreditar que tudo aconteceu exactamente daquela forma (e quem sou eu para o questionar?).
            O poema está lá (incluindo a sua “sagrada” nota de rodapé), a polémica e o poeta também: não faltou nada – até Kerouac e Cassidy existem neste filme – talvez a única coisa que faltou foi mais: ficamos com a sensação de que nos soube a pouco.
            Em Howl celebra-se tanto a alegria da homossexualidade, como a literariedade de se escrever caralho.

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